Por muito tempo, a neuromielite óptica (NMO), ou doença de Devic, foi confundida com a esclerose múltipla (EM). Isso porque essas duas afecções não apenas são imunomediadas, como também desmielinizantes do sistema nervoso central, ou seja, caracterizam-se pela perda da bainha de mielina dos axônios, com prejuízo para a condução de sinais nos nervos afetados.

Contudo, a NMO, que envolve predominantemente o nervo óptico e a medula espinhal, tem curso clínico distinto, além de prognóstico e tratamento diferentes em relação à EM. Ademais, apesar de ser mais grave e incapacitante, pode apresentar boa resposta ao tratamento imunossupressor, sobretudo quando instituído precocemente. Os pacientes com esclerose múltipla, por outro lado, costumam se recuperar, ao menos em parte, após cada crise; no entanto, não há terapêutica realmente eficaz disponível até o presente.

Uma vez que a terapia precoce da NMO pode impedir a instalação de sequelas irreversíveis, como a perda da visão e a paralisia dos membros, a diferenciação entre essas duas condições é fundamental e precisa ser feita quanto antes. Nas fases iniciais da doença de Devic, as alterações clínicas e de ressonância magnética do sistema nervoso central podem ser pouco características, dificultando o diagnóstico de certeza.

Embora não haja exame sorológico para a EM, há um biomarcador específico para a NMO – o anticorpo antiaquaporina4. Sua detecção, feita tradicionalmente no soro, já que não parece haver vantagem em usar o liquor, contribui muito para distinguir uma afecção da outra, sobretudo nos pacientes em fases precoces, que tiveram um único ataque de mielite longitudinal extensa ou neurite óptica isolada e que vão evoluir para a forma clássica da doença.

Fonte: Portal Fleury